Laço foi usado para matar o contrabandista Charlie Birger, em 1928.
Rebecca Cocke quer tirá-lo de museu, alegando que é herança.
Em Benton, Illinois, nos Estados Unidos, os cidadãos ainda se apegam à lenda de Charlie Birger, o gângster contrabandista de bebidas que, momentos antes de morrer na forca, comentou com ironia sobre como o mundo é encantador.
Cerca de oito décadas mais tarde, o laço usado no último enforcamento público de Illinois revela-se numa história à parte.
Rebecca Cocke, neta do xerife que supervisionou a execução de 1928, diz que a corda é um objeto de herança tradicional da família que sua mãe emprestou ao museu da cadeia da cidade há dez anos. Com a mãe agora sofrendo de Alzheimer, Cocke -- sua tutora legal -- está solicitando judicialmente que a corda seja devolvida. “Não tão rápido”, é o que afirmou o diretor da sociedade local de conversação.
Robert Rea quer que um juiz determine se Cocke, a neta do ex-xerife Jim Pritchard, é a herdeira legítima do estimado pedaço de corda, ou se a peça pertence ao condado já que Pritchard fazia parte do quadro de funcionários.
"Não sabemos a quem a corda pertence", admitiu Rea. "Ainda bem que não sou o juiz. É um caso no mínimo interessante".
O mérito é do enigmático Birger.
Ofuscado no cenário nacional pelo lendário gângster de Chicago Al Capone, as façanhas de Birger em tempos de lei seca, contudo, geraram desdobramentos intrigantes, com pessoas comparando-o a um Robin Hood que contrabandeava para combater um governo determinado a legislar a moralidade.
Ele enfrentou uma gangue rival liderada pelos irmãos Shelton usando veículos blindados de fabricação caseira. Chegou a resistir ao bombardeio de Shady Rest, com seu esconderijo repleto de rifles, submetralhadoras, munição e caixas de produtos enlatados.
"Ele foi uma figura notável em vários aspectos", afirmou Lane Harvey, apaixonada por história e advogada que representa Cocke no caso.
A lei fisgou Birger em 1927, quando foi condenado por encomendar a morte de Joe Adams, prefeito da vizinha cidade de West City.
Em 19 de abril de 1928, mais de 5.000 espectadores acotovelaram-se no pátio da cadeia para assistir a morte de Birger. Crianças fugiram da escola para vê-lo caminhar no patíbulo e subir os degraus até a porta do alçapão, onde cumprimentou o carrasco Phil Hanna.
"Eles me acusaram de um monte de coisas de que nunca tive culpa, mas fui culpado de muitas coisas de que eles nunca me acusaram", é o que teria afirmado o ex-vaqueiro e veterano do exército, segundo relatos da imprensa. "Então acho que estamos quites".
Antes de cobrirem sua cabeça com um capuz preto -- ele recusou o branco, dizendo que não queria ser confundido com um membro da Ku Klux Klan -- Birger sorriu e disse "Que mundo lindo". Era o fim de uma interessante personagem.
No museu da cadeia, o acervo inclui o martelo usado pelo juiz para sentenciar Birger à morte e uma série de fotos preto e branco mostrando o condenado acompanhado por um rabino subindo os 13 degraus até a forca. "Charlie Birger morre sorrindo", lê-se abaixo da manchete de uma edição amarelada e antiga do jornal Benton Evening News.
Numa sala no andar superior onde Birger concedeu uma entrevista na véspera de sua execução, há uma foto em tamanho natural do condenado. Do outro lado do corredor, fica a cela de onde ele acompanhava a preparação da forca e, segundo Rea, gritava para afugentar os garotos que tentavam escalar o patíbulo: "Saiam daí, isso é meu".
Na cela há duas metralhadoras Thompson que pertenceram a Birger -- datadas de 1921 e, pelo cálculo de Rea, estimadas em US$ 135.000 -- e uma cesta de vime semelhante à usada para carregar seu corpo.
E há aquele laço, emprestado em 1996 ao museu, que na época acabara de ser formado, pela última filha viva do xerife Pritchard.
Num contrato por escrito incluído no processo que aguarda julgamento, Mary Louise Glover solicitou ao museu que devolvesse o laço se o museu fechasse ou se ela o pedisse de volta. Cocke contou que sua mãe lhe disse certa vez, "Isto sempre será parte da família e sempre fará parte de sua herança".
Mas quando Cocke solicitou em setembro que o laço fosse devolvido, Rea negou, de acordo com o processo, e Cocke moveu uma ação na Vara Cível do Condado de Franklin. Para Cocke e sua advogada, o laço é inestimável.
"De uma forma bastante estranha, como você deve compreender, é algo raro", declarou Harvey. "É a única peça deste tipo e a única que jamais existirá".
Para Cocke, o valor monetário do laço não significa nada. "Faz parte da herança de minha família", disse. "Se eu abrir mão, jamais o verei de novo".
Por enquanto, Rea não resolveu ceder. Assim como a própria lenda de Birger, ele disse, "Sabemos que a história do laço não terá fim".
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