25/03/2007 - 11h25
Informação dada pelo canal de notícias G1, com informações da Reuters
Inventor e mecânico da Etiópia supre uma cidade toda com as máquinas.
Elas são feiras com cápsulas de morteiros de um antigo campo de batalha.
Mekele (Etiópia) - Nas sombras de uma oficina numa cidade norte da Etiópia, Azemeraw Zekele está diante de uma enorme gama de cilindros, tubos e alças. O inventor e mecânico de 54 anos supre Mekele e toda a região montanhosa de Tigray com as máquinas de café. Mas é o tipo de material que escolhe para trabalhar que faz com que Azemeraw seja único no seu ramo.
"Os fazendeiros trazem cápsulas de morteiros de um antigo campo de batalha", diz ele. Apontando em direção ao norte, onde as fronteiras da Etiópia se encontram com as da Eritréia e as duas nações lutaram de 1998 a 2000.
"Os tubos vazios são perfeitos para as máquinas de café. Olhe, o bronze não enferruja. E o formato é perfeito".
Usando as cápsulas queimadas de morteiros como barril interno de suas máquinas de café, Azemeraw e meia dúzia de empregados precisam de cerca de uma semana para produzir uma sofisticada máquina capaz de fazer os 12 tipos diferentes de café bebidos na região.
"Nós pegamos os objetos usados na guerra e os transformamos em algo que dá prazer às pessoas", diz seu filho Mehany, de 22 anos, que trabalha com orgulho ao lado de seu pai. "Talvez esta seja a nossa mensagem para o mundo".
Eles pagam cerca de 350 birr (o equivalente a US$ 40) por morteiro. Os habitantes do local pegam o material nas fronteiras desoladas onde ainda há muita munição que restou de um conflito que matou 70 mil pessoas numa disputa por território entre os dois vizinhos africanos.
A máquina de café finalizada é vendida por algo em torno de 9 mil a 11 mil birr ($1,060-1,290) e Azemeraw vende meia dúzia por ano.
Muitas das cápsulas de morteiro são russas, resquícios do comércio de armamentos durante o período da Guerra Fria. "Veja só a qualidade", diz Azemeraw mostrando uma cápsula grossa.
Antes da guerra, esse pai de seis filhos morava em Asmara, capital da Eritréia , onde consertava máquinas de café e geladeiras. Mas então, o conflito teve início entre a Etiópia e sua antiga província. Ele e outros etíopes voltaram correndo pra casa.
Devido às semelhanças de etnia e cultura - incluindo um amor compartilhado por café - os estrangeiros têm dificuldade em entender a animosidade entre os dois países, que continuou mesmo depois da guerra. É algo que até alguns nativos não conseguem compreender.
"Antes, nós vivíamos juntos. Somos o manso povo. Trabalhávamos juntos, comíamos juntos" diz Mehany. "Um dia, viveremos em paz novamente".
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