sexta-feira, 28 de setembro de 2007

O HOMEM VOADOR.














Sexta-feira, 21 de Setembro de 2007.
informação dada pelo Jornal da Globo da TV Globo.


O sertanejo que queria voar


“Evangelista Ignácio de Oliveira. Ignácio com ‘g’, descendente de inglês”, apresenta-se o inventor.

“Era o nosso professor pardal”, diz Tarcísio Rodrigues, comerciante. Professor! Sem nunca ter sido aluno. “É um auto-didata, realmente. Não estudou, não freqüentou a escola”, revela Marcos Carvalho, cineasta.

“Mas ta aí ele faz e comprova. Essa é a idéia dele”, diz Carvalho. Armas artesanais; câmera de cinema. “Esse motor é de nebulizador que o cabra melhorou e disse ‘vou lhe dar o motor pra você botar aí na sua máquina’”, conta Evangelista.

A história do inventor sertanejo virou filme pelas mãos do pernambucano Petrônio Lorena e do carioca Tiago Scorza. Autores do documentário “O som da Luz do Trovão”.

O filme mostra que uma das primeiras criações do sertanejo foi uma asa delta, inspirado nos pássaros. “Então eu fiz uma asa delta com seis metros de envergadura e trinta metros de pano”, conta Evangelista.

Fez e planejou a estréia. “Perto daquele morro tem uma corrente térmica de ar então aproveitava aquele anteparo e dobrava pra cidade. To fly, voar” recorda o inventor.

“Quando foi um dia estourou uma bomba que Evangelista ia voar”, lembra Anildomar Souza, historiador.

“O pouso seria na Praça da Igreja Matriz que estava lotada. Era um oito de setembro, dia da padroeira da cidade. Quarenta anos atrás, Serra Talhada interrompeu a festa para olhar pro céu.

“Quando vim pra praça, onde seria o local de aterrissagem tava a polícia”, recorda o historiador.

“O tenente mandou dizer a você que se quisesse morrer, procurasse outro tipo de morte. A asa está apreendida”, conta Evangelista.

“E Evangelista não pôde realizar o sonho”, diz Anaísa Alves, escrevente.

“Prenderam o pássaro antes de ele conquistar a liberdade”, diz Souza.

“Não demorou muito encontrei um rapaz de São Paulo que comprou a asa e levou. Depois ele mandou-me um retrato dizendo que ‘tudo bem’. Prova que a asa funcionou que estou vivo. Tá aqui o retrato”, afirma Evangelista.

Se na época tivesse voado, Evangelista teria sido o primeiro brasileiro a alcançar o feito.

“Antes de chegar uma asa delta no Brasil ele já tinha desenvolvido um modelo próprio”, afirma Tiago Scorza, cineasta.

Oficialmente, foi o carioca Luís Cláudio Matos, em 1974. “O grande trauma de Evalgelista é não ter sido reconhecido pelo invento dele”, conta Petrônio, cineasta.

A frustração de Evangelista durou quatro décadas. “Eu estou sabe aonde? Eu vou voar de asa delta da Pedra bonita”, avisa Evangelista.

Quarenta anos de espera esquecidos em quarenta minutos nos ares. “Quem não voou num negócio desse não sabe o que é bom”, fala Evangelista.

Estava batizado quem tinha incontáveis horas de vôo no pensamento. “Evangelista Ignácio de Oliveira. Ignácio com g, descendente de inglês”, brinca Evangelista.







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