domingo, 23 de setembro de 2007

CRÍME ORGANIZADO EM PAULO AFONSO-BA NOS ANOS 80 E 90.






















22.07.1995.

Informação dada por Sociedade Interamericana de Imprensa.



fotografias da extinta gazeta da bahia de Paulo Afonso-ba.



texto Por Clarinha Glock






















Caso Nivanildo Barbosa Lima
Redator do jornal Ponto de Encontro,




de Paulo Afonso, na Bahia






Desapareceu em 20 de julho de 1995




e foi encontrado morto em 22 de julho de 1995











Foi num quinta feira dia 20 de julho de 1995 que Nivanildo




Barbosa Lima com 27 anos de idade na época,




saiu as 900hs da manhã de sua residência




com destino á Igreja Nossa Senhora do




perpétuo Socorro onde iria participar de




uma reunião e realizar alguns trabalhos. Passou em




frente ao sindicato dos Bancários e disse




aos colgegas que após as tarefas viria para




aquele local, entretanto não retornou nem




foi para casa na hora do almoço. Ao anoitecer




seus pais e familiares entraram em




pâniconico e fizeram várias buscas nos




prováveis lugares onde´´Niva´´ poderia




se encontrar , mas, tudo em vão.




No dia seguinte, os familiares mobilizaram




a polícia para novas buscas, mas infelismente




nenhuma pista, a não ser uma informação




de um amigo da família que o viu de




mãos dadas com uma mulher de




aproximadamente 30 anos de idade na quinta feira,




época do fato.











Clima de Tensão






A tensão foi aumentando a cada hora,




a cada minuto e nenhum sinal de Nivanildo.






Na sexta feira 21 de julho de 1995,




por volta das 1600hs o telefone toca na casa de




sua mãe, dona Nena Cabeleleira,




situada á Av. Getúlio Vargas.




Era uma voz que dizia




para Nivânia, irmã de Nilvanildo




que ele estava amarrado e sofrendo na casa




onde funcionava o varandão




e que estava em companhia




de uma mulher branca




e três homens. Com isso a




família acionou a polícia




que se dirigiu até o local,




mas nada encontraram.




Anoitece mais uma vez e nada




de novidades.As esperanças de encontrar




Nivanildo com vida ainda não




haviam se apagado.




Uma corrente de orações




envolveu a todos os amigos,




parentes e familiares.




A preocupação era tamanha.




A busca incansável se




fazia a cada instante.




Muita gente se mobilizou




para encontrar Nivanildo.




Afinal, um jovem,




pacato, amigo, sensível e




companheiro, não podia se perder




simplismente, a questão




era mais forte e os




familiares começaram




a desconfiar que ele




poderia ter sido sequestrado.




Nivanildo não tinha




inimigos nem havia




saido acompanhado




de maus alementos.




As buscas continuaram




até a meia noite




de sexta feira, quando




praticamente todos os




lugares foram vasculhados.




No sábado 22 de julho de




1995, pela manhã dois rapazes




encontraram o corpo




de Nivanildo boiando na




barragem da PA-4.






Era realmente o jovem




que tanta gente estava




anciosa para que fosse




encontrado. A polícia




tomou conhecimento do fato




e comunicou a família,




que se deslocou para




reconhecimento do corpo.




Ao ser retirado para




fora do canal, foi




observado um profundo




golpe no ouvido




esquerdo como se




tivesse sido provocado




por um instrumento cortante,




mas foi constatado




pelos peritos em Salvador-Ba




que realmente as




partes feridas nos ouvidos




e no olhos esquerdo




foram provocadas pelos peixes,




entretanto, segundo




a autópsia realizada




em Salvador-Ba ,




Nivanildo foi afogado




por afixia mecânica,




isto quer dizer que




realmente houve crime.











Mutio Mistério






O resultado da perícia realizada




no Hospital Nair Alves de Souza,




em Pauo Afonso-Ba não convenceu




os familiares de Nivanildo que




imediatamente trataram




de levar o corpo para




autópsia em Salvador.




Além do mais haviam motivos




para que assim procedessem.




O corpo foi levado á




Salvador por conta




de uma caleta entre o




Capitão Carvalho Lima e




a então Prefeita de Salvador




Lídeceda Mata e do PC do B que




arrecadaram o valor de três




mil e quinhentos reais




da época para as despesas.











Ameaça de Morte






Há um mês de sua morte




Nivanildo entrou em contato




com o Padre Wilson, editor do Jornal




´´Pontode Encontro´´,




onde Nivanildo era




também redator e




contou-lhe que estava




sendo ameaçado de morte.




Do mesmo modo




telefonou telefonou para




a redação da Gazeta da




Bahia de Paulo Afonso-Ba




relatando que ´´que estava




sendo ameaçado e que a




pessoa que estava




ao telefone tinha uma voz




muito conhecida, entretanto




não podia adiantar o




nome porque tinha mêdo de




cometer uma injustiça caso não fosse




a pessoa que estava pensando´´.











Afogado ou Morto?






O telefonema recebido por




Nivânia é uma das provas




evidentes de que assim




não fosse, ele teria voltado




para casa e tudo não passaria de




uma pequena viagem, um




passeio ou coisa parecida,




entretanto, no dia seguinte seu




corpo estava inete sobre as águas da barragem PA-4.






A morte de Nivanildo deixou a




sociedade mais quieta do que nunca.




Nenhum ruído de maniferstações,




clima de revolta aparente ou coisa




parecida. Também pudera,




as ameaças continuavam e já há uma




lista de 8 pessoas que




podem ter a vida ceifada.






É preciso que seja dado




uma basta nessa situação,




para que as




pessoas possam ir e vir




sossegadamente,




sem serem molestadas,




feridas e terrívelmente




assacinadas. Quando é que essa




onda de crimes vai ter um fim?






















Um idealista apaixonado por Jornalismo











Jovem ingênuo e dócil.




Essa imagem foi o que




restou de Nivanildo




Barbosa Lima, 27 anos,




encontrado morto em 22 de julho de 1995




na represa Paulo Afonso (PA-4),




localizada na cidade




de mesmo nome,




no norte da Bahia.




O rapaz que queria




cursar Jornalismo e falar no




rádio, mas não teve




tempo de concretizar




seus sonhos, participava




ativamente do jornal




Ponto de Encontro,




da Igreja Católica, por




idealismo e vocação.




O tablóide registrava




a voz dos movimentos




populares e chegava




às cidades de Paulo




Afonso e da vizinha Glória




com denúncias sobre




os grupos de extermínio da região.






“Há quem diga que a




morte de Nivanildo




foi um aviso para a direção




do jornal”, acredita o




padre José Wilson




Andrade, que atuou na




Paróquia Sagrada




Família de 1991 até




fevereiro de 2002




em Paulo Afonso,




ajudou a fundar o




Ponto de Encontro,




e hoje faz o curso




de Mestrado em




Belo Horizonte. Toda




as pessoas que, de alguma




forma, fizeram críticas aos grupos




de extermínio, foram ameaçadas.




A revista Gazeta da Bahia




chegou a mencionar uma lista




deste grupo, que ficou conhecido




como “Os Sentenciados”.




Na lista havia nomes de jornalistas,




radialistas, religiosos,




sindicalistas - entre eles, o




de Nivanildo.






Ponto de Encontro




cumpria um papel de




oposição numa cidade




em que a maior parte




dos jornais e




das rádios estavam




sob a influência do




Partido da Frente Liberal (PFL).




Nivanildo ingressou na




equipe quando




o jornal foi ampliado e passou




a ter dois cadernos.




Ele era então um




militante do Partido Comunista




do Brasil (PC do B).




Escrevia uma coluna




de política e participava da




discussão de pautas.




“Nivanildo dizia que




o jornal não podia ficar




calado sobre o crime




organizado, embora




não escrevesse diretamente




sobre isso”, lembra o padre.




O próprio Nivanildo ajudou




a organizaruma passeata contra




os desmandos e os




assassinatos cometidos pelos grupos




de extermínio.






Desde criança o




rapaz mostrava um




interesse especial pelo




Jornalismo. Tinha




cursado apenas o




1º Grau, mas adorava




ler livros e jornais,




devorando-os com




a mesma voracidade




com que assistia




aos noticiários pela




televisão. Chorou




quando ouviu a notícia




da chacina dos




meninos de rua na frente da




Igreja da Candelária, no




Rio de Janeiro, e desabafou:




“Isso é uma injustiça”.






A família do rapaz, ainda




traumatizada pela forma brutal como ele




apareceu morto na represa de




Paulo Afonso, não quer dar




declarações. Quase 13 anos




depois do ocorrido, os pais




deixaram a casa onde viviam




quando Nivanildo estava vivo.




Confiam apenas na Justiça de Deus.






Ameaças antes de morrer






Familiares lembram que, às 8h




do dia em que desapareceu,




Nivanildo estava em casa




quando recebeu um telefonema,




passou a mão na cabeça e




disse “Meu Deus”. Depois,




falou que tinha de ir até a




Igreja Perpétuo Socorro.




E desde então nunca mais apareceu.






Na tarde do dia seguinte,




a irmã de Nivanildo atendeu




uma ligação de um homem.




Sem se identificar,




o homem afirmou que o




jovem estava amarrado no




Varandão (uma chácara próxima ao aeroporto),




com dois rapazes e uma moça.




Outra informação que




consta nos depoimentos




prestados à polícia foi dada




por um amigo da família,




que teria avistado Nivanildo com




uma moça loira, entre 9h30min e 10h




do dia em que desapareceu,




sem ter certeza se a mulher




estava acompanhando Nivanildo ou se os




dois “andavam casualmente”.






Por duas vezes, pelo menos,




Nivanildo disse ter recebido




ameaças. Numa reunião do Ponto de Encontro,




comentou com o padre Andrade: “Esses caras




estão querendo me matar”,




sem entrar em detalhes.




Na tarde antes de desaparecer,




Nivanildo ligou para




Aníbal Alves Nunes,




editor da revista Gazeta da Bahia,




e falou que estava sendo




seguido e que havia recebido




telefonemas avisando que




não deveria ter publicado




artigos sobre os grupos de extermínio.






Quando o corpo de




Nivanildo foi encontrado na barragem,




houve insinuações de que




ele havia se suicidado porque




teve uma crise existencial.




Os familiares e os amigos




sempre rebateram essa versão.






Os jornalistas e radialistas




que denunciaram os grupos




de extermínio em Paulo




Afonso, na mesma




época de Nivanildo,




também sofreram perseguições e




ameaças. O jornalista




Roberto Borges Evangelista,




44 anos, conhecido como




Beto Borges, em 2002




é assessor da Prefeitura de




Jeremoabo, na Bahia,




mas durante os anos 90




teve de sair de Paulo Afonso




para se manter vivo.




As ameaças eram uma represália




às denúncias que fazia




na rádio Cultura,




onde tinha um programa




de música e de notícias




policiais, e no jornal Opus,




em queele dizia abertamente os




nomes dos envolvidos nos grupos




de extermínio. Borges era




também membro do Conselho da




Comunidade da Comarca




de Paulo Afonso, que fazia o




acompanhamento das




condições dos presídios.






Durante um tempo,




recebeu “recados” para se calar.




A “gota d’água” que o




fez sair da cidade foi quando um dos




“clientes” do Conselho da Comunidade -




um preso que havia escrito




uma carta de dentro da cadeia




denunciando torturas




feitas pelo Sargento Martins -




apareceu morto,




semi-enterrado na




entrada da casa do presidente do




Conselho: estava




escalpelado com




facão e tinha as mãos cortadas.






Como Borges,




Luiz José Ferreira




de Brito, conhecido como




Bob Charles, saiu de




Paulo Afonso quando




as ameaças se tornaram




mais freqüentes.




Hoje é dono de um jornal




independente e




assessor de um vereador,




mas nos anos 90




trabalhava numa rádio em que




denunciava o




crime organizado, citando nomes.




“A polícia mandava




recados: você pode amanhecer




com a boca cheia de formigas”, recorda.






Aníbal Alves Nunes, editor




da revista Gazeta da Bahia,




sofreu dois atentados por




conta de sua persistência.




“Todo crime que




acontecia eu registrava, mas não




divulgava os nomes de mandantes,




por isso ainda estou vivo”,




avalia. “Eu divulgava




sistematicamente,




o que gerou a vinda de um grupo




de Salvador para




fazer o levantamento completo




sobre os crimes:




como matavam, como queimavam




os corpos - eram crimes muito semelhantes”.






Contexto político da morte






Em 1995, a cidade de Paulo Afonso, a 507 quilômetros




ao norte de Salvador, ainda vivia em torno da Companhia




Hidrelétrica de São Francisco (CHESF).




Tinha cerca de 80 mil habitantes (hoje são 96,4




mil, de acordo com o censo de 2000). A represa que




modificou o cartão postal da cidade, geralmente ilustrado




pela cachoeiras de Paulo Afonso, trouxe o




desenvolvimento para a região.






Com o fim das obras da barragem,




no entanto, os moradores




de Paulo Afonso passaram




a sentir os reflexos do desemprego.




“A CHESF, que empregava




em torno de 15 mil funcionários em 1995,




tem hoje em torno de 2 mil”,




diz Nunes, da Gazeta da Bahia.




Os cargos no comércio e na construção civil




são escassos. Nunes lembra




que uma boa parte dos




moradores foi embora, outros




se dedicam à pecuária,




à agricultura e aos trabalhos




nas cidades vizinhas. Mas




a agricultura na região é







irrisória devido aos longos




períodos de seca.




Ironicamente, o município tem uma




das maiores arrecadações




no Estado, devido à presença




da hidrelétrica.






Em meados dos anos 90,




os jornais e as rádios denunciavam




a atuação dos grupos de




extermínio na região. Nunes




explica que havia dois




grupos rivais na cidade. Um deles




era liderado pelo Sargento




Martins, hoje preso. O outro,




pelo capitão Carvalho Lima,




que morreu em um confronto




mal explicado pela polícia.




O capitão Carvalho Lima




chegou a ser vereador e




teve seu mandado cassado. Embora




um fosse subordinado ao outro, os dois se




desentenderam e começaram a denunciar a




participação recíproca em mortes e roubos na




região. Padre Andrade acredita que a morte de




Nivanildo pode estar associada ao fato de o jovem




ter sido arrolado, a pedido do capitão Carvalho,




como testemunha de crimes que teriam sido




cometidos pelo Sargento Martins.




Nivanildo teriainclusive dado uma




entrevista numa rádio acusando o sargento.






Martins foi condenado a 32 anos de prisão por duplo




homicídio, como mandante de outro crime.




Seu nome não é citado no inquérito da morte




de Nivanildo.




O juiz Abelardo Paulo da Matta Neto, da




8ª Vara Crime de Salvador, que foi juiz da Vara




Crime de Paulo Afonso de 1993 a 1997, lembra




que havia a suspeita de o sargento ser um dos




mentores do esquadrão da morte na região.




“Por falta de provas, ele não foi acusado por




sua participação no crime organizado -




a Justiça só trabalha com provas”, ressalta o juiz.






Pela Internet, o próprio Martins se defende




das acusações.




No site




amigosdosargentomartins.vilabol.uol.com.br/principal.html,




ele se diz um “líder perseguido por ter denunciado




um poderoso esquema de corrupção, furtos,




tráfico de drogas, além de outros crimes praticados




pelo capitão da Polícia Militar da Bahia, Carvalho Lima (...)”.






A repercussão causada pela morte de Nivanildo e o




crime ocorrido em Glória em que foi indiciado




o sargento Martins ajudaram a mudar a realidade




em Paulo Afonso. Rosalino dos Santos Almeida,




juiz titular da 1ª Vara Cível de Paulo Afonso e




substituto da Vara Crime em Glória, Rodelas e




Chorrochó (cidades próximas), trabalha na região




há 12 anos. Segundo Almeida, o sargento Martins




só foi preso porque uma testemunha do crime




praticado na cidade de Glória teve a coragem




de depôr contra o policial em um inquérito.




“O pessoal da igreja começou a levar as




vítimas para a promotoria, e não para a delegacia,




porque a Polícia Civil e a Militar




tinham medo do sargento”,




conta Almeida.




Com a prisão de Martins, houve também




uma reestruturação da polícia na região.






Almeida é a favor de mudanças no sistema de




investigação no Brasil. “É preciso criar uma




forma de apurar o fato o mais próximo possível




do ocorrido, senão as pessoas




se esquecem dos detalhes,




provas que podem ser




valiosas para a condenação




de quem praticou o delito -




aí é trabalho dobrado




e caso perdido”, reclama o juiz.




“Na maior parte




dos casos, as testemunhas




voltam atrás nos depoimentos”.






Morte de Nivanildo Barbosa Lima precisa ser investigada






O minguado inquérito policial aberto em 22 de




julho de 1995 para investigar a morte de




Nivanildo Barbosa Lima, redator do jornal




Ponto de Encontro, de Paulo Afonso,




na Bahia, é um reflexo do




desdém com que o caso vem sendo tratado




desde então. De concreto, existe apenas um




laudo de exame do cadáver feito no Instituto




Médico-Legal Nina Rodrigues, em Salvador, em




agosto de 1995, que constatou morte devido a




asfixia mecânica por afogamento. A polícia e o




Ministério Público aceitaram, num primeiro momento,




a versão de “morte natural” e não investigaram




outras prováveis causas. Em 26 de outubro de 1998,




a juíza Maria Auxiliadora Sobral Leite




decidiu pelo arquivamento do caso.





Em junho de 2002, o promotor de Justiça auxiliar




da Comarca de Paulo Afonso, Hugo Casciano de Sant’Anna,




resolveu dar andamento ao pedido de reabertura do




inquérito para apurar novas provas.




Um ano antes, uma outra promotora já havia pedido




que as investigações prosseguissem e que a po-




lícia colhesse novos depoimentos, o que não foi feito.




Questionada pela SIP, em novembro de 2002, a




promotora de Justiça de Paulo Afonso,




Izabel Cristina Vitória Santos, encaminhou ao




Coordenador Regional de Polícia de Paulo Afonso,




Celso Lima Bezerra, um pedido de informações sobre o




andamento das investigações criminais. Bezerra




encaminhou o inquérito para a delegacia de Paulo




Afonso para dar prosseguimento às investigações.






A pedido da SIP, o perito e professor de




criminalística e balística, Domingos Tocchetto,




que já colaborou para a solução de casos de




repercussão nacional, avaliou o laudo que




consta no inquérito sobre




a morte de Nivanildo. Segundo Tocchetto,




um laudo de asfixia mecânica é a maneira mais simples de




se descartar um inquérito. Mas quem garante




que o afogamento não foi provocado?




“Há uma série de pontos que precisam ser




esclarecidos”, acredita. Ele apontou algumas




dúvidas a partir da leitura do laudo do cadáver:











  1. No laudo diz que foram feitos exames de



sangue e análise das vísceras, além de alcoolemia




(e, segundo os dados da alcoolemia,




Nivanildo estaria bêbado).




Por que o resultado destes exames




não está anexado ao inquérito?




.......









2. Quando o corpo foi encontrado, houve boatos de que




ele estaria sem a língua, ou com a língua cortada. No laudo,




há uma descrição detalhada da boca, e não é mencionada




a questão da língua. Não foram ouvidas testemunhas




sobre esse fato.




3. As fotos que constam no inquérito aparentemente




foram todas feitas por um jornalista, Aníbal Alves




Nunes, e não por um perito. Nas fotos, Nivanildo




aparece sempre do lado esquerdo, onde




4. se vê lesões no supercílio e na orelha. Mas o laudo




aponta a “ausência do lóbulo




do pavilhão auricular direito




com destruição parcial”.




Por que as fotos mostram só




um lado se houve lesões




5.do outro também?




Tocchetto estranha estas lesões.




Por que os peixes iriam comer uma só orelha,




e deixar ilesas outras partes expostas do corpo?




6. No exame dos ouvidos consta “ausência de




pavilhão auricular esquerdo e lóbulo do ´pulmão`”.




7. O perito questiona se esse “lóbulo do pulmão”




seria um erro de digitação, porque está citado




junto com o exame da parte externa do organismo,




e não da parte interna.




8. O laudo identifica uma ferida na região nasal,




mas não explica qual a origem (em relação às




outras lesões, aponta como sendo possivelmente




causadas por animais necrófagos).




Há também uma lesão




irregular na região superciliar direita.




No laudo, consta que possa




ter sido causada por animais necrófagos.




Mas uma lesão deste tipo pode sugerir




também que Nivanildo




9. tenha sido agredido ou levado alguma batida




antes de cair na água.




10. As fotos anexadas ao inquérito só mostram




lesões na região superciliar esquerda.




11. As lesões foram apontadas como sendo




produzidas depois da morte, por animais







“marinhos”. Nivanildo estava num lago de uma




represa - existem animais marinhos ali, ou




houve um problema de digitação?




12. A análise da calota (porção superior da caixa craniana)




identificou uma “congestão difusa”.




O perito questiona o que querem dizer




com a expressão e qual seria a causa do




derrame de sangue, como é indicado pelo




termo “impregnação hemática”. Pode ter




sido uma pancada, uma queda,




ou uma batida, por exemplo.




13. O laudo não descarta a hipótese e nem




investiga a possibilidade de, antes de ter




se afogado, Nivanildo ter recebido uma




paulada ou sido pressionado para dentro




da água. Segundo o perito, a exumação




do corpo pode identificar se há ossos




fraturados na cabeça ou na face - um indicativo




de uma pancada. No caso de se




realizar uma exumação,




é aconselhável fazer a varredura




14. de todo o corpo com Raio X para




verificar se existe a presença de algum projétil.




15. Por que não foi feito um levantamento




dos últimos momentos de vida de Nivanildo?




Se ele havia bebido, onde bebeu? Com quem?




16. A quantos metros da barragem ele estava?




Qual a posição em que foi encontrado?




Por que não há fotos feitas por peritos no local?

NIVANILDO BARBOSA LIMA
(6 de fevereiro de 1968 - desapareceu




em 20 de julho de 1995




e foi encontrado morto




em 22 de julho de 1995)






Local e circunstâncias da morte: saiu de casa por




volta das 9h do dia 20 de julho de 1995 em




direção à Igreja do Perpétuo Socorro, onde




iria participar de uma reunião do jornal Ponto




de Encontro. Passou em frente ao Sindicato




dos Bancários e disse a amigos que depois




da reunião voltaria ao local. Seu corpo foi




encontrado boiando na represa PA-4 da




CHESF-Paulo Afonso, com ferimentos no rosto.




O laudo da necrópsia constatou




"afogamento por asfixia mecânica".






Provável causa: estava colhendo informações




sobre o crime organizado e escrevia artigos




para o jornal Ponto de Encontro






Suspeitos: o inquérito foi arquivado em




outubro de 1995. Com base no laudo




cadavérico, a morte foi considerada




“natural”. O Ministério Público pediu a




reabertura do inquérito em junho de 2002






FICHA PESSOAL






Lugar de Nascimento: Paulo Afonso, Bahia






Idade ao morrer: 27 anos






Estado Civil: solteiro






Educação: 1º Grau






Profissão/cargo: era redator do jornal Ponto




de Encontro em Paulo Afonso, na Bahia






Atividade Social/passatempos: gostava de jogar futebol






Outras atividades ou funções: era militante




do Partido Comunista do Brasil (PC do B),




assessorava sindicados e era ligado à Igreja Católica.






CRONOLOGIA






20 de julho de 1995 - Nivanildo Barbosa Lima




desaparece por volta das 9h, quando ia para a igreja






22 de julho de 1995 - O cadáver de Nivanildo




é encontrado na represa Paulo Afonso - PA-4 -




e o delegado Carlos Barbosa Sanches abre um




inquérito para apurar a morte






Agosto de 1995 - O laudo de exame cadavérico




feito pelo Instituto Médico-Legal Nina Rodrigues,




de Salvador, indica como causa de morte




“asfixia mecânica por afogamento”






26 de outubro de 1998 - A juíza Maria




Auxiliadora Sobral Leite aceita o pedido de




arquivamento feito pelo Ministério Público






17 de junho de 1999 - A promotora de




Justiça Isabel Adelaide de Melo Andrade




pede o desarquivamento do inquérito,




devido ao surgimento de novas provas






20 de junho de 2002 - O promotor de




Justiça Hugo Casciano de Sant’Anna,




da 1ª Promotoria de Justiça da Comarca de




Paulo Afonso, pede o retorno do inquérito




para a delegacia, para que sejam




encaminhadas as diligências pedidas




pela promotora






Outubro de 2002 - O inquérito permanecia




no Ministério Público para ser novamente




encaminhado à delegacia de polícia






7 de novembro de 2002 - A promotora




de Justiça da 1ª Promotoria da Comarca de




Paulo Afonso, Izabel Cristina Vitória Santos,




solicitou informações sobre o caso para o




Coordenador Regional de Polícia de




Paulo Afonso, Celso Lima Bezerra






11 de novembro de 2002 - Bezerra




disse que o inquérito seria encaminhado




ao delegado de Paulo Afonso para dar




andamento às diligências solicitadas.

Nivanildo Você não se foi

´´Um encontro

que foi um fiasco´´

vida que era a vida na visão

de um idealista como Nivanildo,

se não a oportunidade

de afirmação de suas convicções?

convicções as vezes

tão subjetivas e tão profundas

que nem mesmo sua família entendia.

Nivanildo levava tão á sério

a idéia de uma sociedade

sem opresão que o resto

ele relativisava. A família?

Diante da guerra da Bósnia?

Diante das crianças

morrendo na África?

ou diante da chacina de Vigário Geral,

A chacina da Candelária

ou das mortes do Carandirú? A vida?

Que segnifica a vida dos 8 milhões

de meninos de rua no Brasil?

Ou dianet dos 40 milhões que

passam fome e estão na miséria?

A sua família não estava errada.

Fizeram tudo que podiam a Nivanildo.

Mas ele era uma pessoa que tinha,

sobretudo, uma visão social muito ampla.

Porque denunciar militares

envolvidos no grupo de extermínio?

Porque Nivanildo achava

que acreditava que podia ter uma

Paulo Afonso melhor, lívre dos

´´vampíros selvágens, insaciáveis,

com a alma emporcalhada

de pecados, o corpo debilitado

pelo veneno da maldade e

a mente podre de devasidão´´.

Como bem escreveu Aníbal Nunes,

lembrando outro assacinato

envergonhando a querida Paulo Afonso.

Embora jovem sua convivêncvia

com os movimentos populares

[militante político,

fez parte de entidades estudantis,

participante em Associação

de moradores, assesorava sindicatos,

representante do comitê

da cidadania contra a Violência pela Paz]

o tornara alvo dos bandidos,

criminosos e assacinos

travestidos de empresários,

políticos e policiais, todos eles

conhecidos da população de Paulo Afonso.

No dia 20 de julho de 1995 desapareceu

Nivanildo para ser encontrado

3 dias depois morto. morto?

´´sozinho no escuro qual

bicho do mato sem teogonia

sem parede prá se

enconstar sem cavalo preto

que fuja a galope

você segue José,

José para onde?

se você gritasse

se você gemesse

se você tocasse A valsa

vienese se você

dormisse se você morresse

Mas você não morre

josé você é duro José´´...

Nós os cristãos sabemos

que a verdadeira vida

vem depois da morte.

Por que ficar calado.,

por tanto, vendo as

injustiças perante nós?

por isso esse bando de

extermínio tinha que ir para a cadeia.

Por isso ele relatizava a vida.

A ninguém pertence o destino da vida

senão á Deus. A ele cabe

a decisão de quem vai viver

e de quem vai morrer.

Por isso Nivanildo se levantou

contra os últimos atos de violência

que envergonharam Paulo Afonso.

o assacinato do Jovem Jair Andrade,

o processo de afastamento do

Capitão Carvalho Lima, o asacinato dos

lavradores Elizeu Barbosa e

José Manoel, o assacinato da jovem Gildineide,

a violência do estado ao cidadão,

enfim ele se levantou contra

toda forma de violência.

Vamos sentir muito sua falta.

Nivanildo;familiares, amigos,

companheiros e população.

Mas acreditamosna sua causa,

acreditamos na justiça divina,

sabemos que sua mensagem

cauiu na boa terra e ela vai

germinar, vai crescer, vai revolucionar,

vai transformar, vai mudar

Paulo Afonso. Por isso você não morreu,

você vive. Obrigado querido Nildo.

OBS: Texto de Gezival Texeira

Lima[primo de Nivanildo]

Caixa Postal-09-Cep-29930-000

São Mateus-Es.







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