Caso Nivanildo Barbosa Lima Redator do jornal Ponto de Encontro,
de Paulo Afonso, na Bahia
Desapareceu em 20 de julho de 1995
e foi encontrado morto em 22 de julho de 1995
Foi num quinta feira dia 20 de julho de 1995 que Nivanildo
Barbosa Lima com 27 anos de idade na época,
saiu as 900hs da manhã de sua residência
com destino á Igreja Nossa Senhora do
perpétuo Socorro onde iria participar de
uma reunião e realizar alguns trabalhos. Passou em
frente ao sindicato dos Bancários e disse
aos colgegas que após as tarefas viria para
aquele local, entretanto não retornou nem
foi para casa na hora do almoço. Ao anoitecer
seus pais e familiares entraram em
pâniconico e fizeram várias buscas nos
prováveis lugares onde´´Niva´´ poderia
se encontrar , mas, tudo em vão.
No dia seguinte, os familiares mobilizaram
a polícia para novas buscas, mas infelismente
nenhuma pista, a não ser uma informação
de um amigo da família que o viu de
mãos dadas com uma mulher de
aproximadamente 30 anos de idade na quinta feira,
época do fato.
Clima de Tensão
A tensão foi aumentando a cada hora,
a cada minuto e nenhum sinal de Nivanildo.
Na sexta feira 21 de julho de 1995,
por volta das 1600hs o telefone toca na casa de
sua mãe, dona Nena Cabeleleira,
situada á Av. Getúlio Vargas.
Era uma voz que dizia
para Nivânia, irmã de Nilvanildo
que ele estava amarrado e sofrendo na casa
onde funcionava o varandão
e que estava em companhia
de uma mulher branca
e três homens. Com isso a
família acionou a polícia
que se dirigiu até o local,
mas nada encontraram.
Anoitece mais uma vez e nada
de novidades.As esperanças de encontrar
Nivanildo com vida ainda não
haviam se apagado.
Uma corrente de orações
envolveu a todos os amigos,
parentes e familiares.
A preocupação era tamanha.
A busca incansável se
fazia a cada instante.
Muita gente se mobilizou
para encontrar Nivanildo.
Afinal, um jovem,
pacato, amigo, sensível e
companheiro, não podia se perder
simplismente, a questão
era mais forte e os
familiares começaram
a desconfiar que ele
poderia ter sido sequestrado.
Nivanildo não tinha
inimigos nem havia
saido acompanhado
de maus alementos.
As buscas continuaram
até a meia noite
de sexta feira, quando
praticamente todos os
lugares foram vasculhados.
No sábado 22 de julho de
1995, pela manhã dois rapazes
encontraram o corpo
de Nivanildo boiando na
barragem da PA-4.
Era realmente o jovem
que tanta gente estava
anciosa para que fosse
encontrado. A polícia
tomou conhecimento do fato
e comunicou a família,
que se deslocou para
reconhecimento do corpo.
Ao ser retirado para
fora do canal, foi
observado um profundo
golpe no ouvido
esquerdo como se
tivesse sido provocado
por um instrumento cortante,
mas foi constatado
pelos peritos em Salvador-Ba
que realmente as
partes feridas nos ouvidos
e no olhos esquerdo
foram provocadas pelos peixes,
entretanto, segundo
a autópsia realizada
em Salvador-Ba ,
Nivanildo foi afogado
por afixia mecânica,
isto quer dizer que
realmente houve crime.
Mutio Mistério
O resultado da perícia realizada
no Hospital Nair Alves de Souza,
em Pauo Afonso-Ba não convenceu
os familiares de Nivanildo que
imediatamente trataram
de levar o corpo para
autópsia em Salvador.
Além do mais haviam motivos
para que assim procedessem.
O corpo foi levado á
Salvador por conta
de uma caleta entre o
Capitão Carvalho Lima e
a então Prefeita de Salvador
Lídeceda Mata e do PC do B que
arrecadaram o valor de três
mil e quinhentos reais
da época para as despesas.
Ameaça de Morte
Há um mês de sua morte
Nivanildo entrou em contato
com o Padre Wilson, editor do Jornal
´´Pontode Encontro´´,
onde Nivanildo era
também redator e
contou-lhe que estava
sendo ameaçado de morte.
Do mesmo modo
telefonou telefonou para
a redação da Gazeta da
Bahia de Paulo Afonso-Ba
relatando que ´´que estava
sendo ameaçado e que a
pessoa que estava
ao telefone tinha uma voz
muito conhecida, entretanto
não podia adiantar o
nome porque tinha mêdo de
cometer uma injustiça caso não fosse
a pessoa que estava pensando´´.
Afogado ou Morto?
O telefonema recebido por
Nivânia é uma das provas
evidentes de que assim
não fosse, ele teria voltado
para casa e tudo não passaria de
uma pequena viagem, um
passeio ou coisa parecida,
entretanto, no dia seguinte seu
corpo estava inete sobre as águas da barragem PA-4.
A morte de Nivanildo deixou a
sociedade mais quieta do que nunca.
Nenhum ruído de maniferstações,
clima de revolta aparente ou coisa
parecida. Também pudera,
as ameaças continuavam e já há uma
lista de 8 pessoas que
podem ter a vida ceifada.
É preciso que seja dado
uma basta nessa situação,
para que as
pessoas possam ir e vir
sossegadamente,
sem serem molestadas,
feridas e terrívelmente
assacinadas. Quando é que essa
onda de crimes vai ter um fim?
Um idealista apaixonado por Jornalismo
Jovem ingênuo e dócil.
Essa imagem foi o que
restou de Nivanildo
Barbosa Lima, 27 anos,
encontrado morto em 22 de julho de 1995
na represa Paulo Afonso (PA-4),
localizada na cidade
de mesmo nome,
no norte da Bahia.
O rapaz que queria
cursar Jornalismo e falar no
rádio, mas não teve
tempo de concretizar
seus sonhos, participava
ativamente do jornal
Ponto de Encontro,
da Igreja Católica, por
idealismo e vocação.
O tablóide registrava
a voz dos movimentos
populares e chegava
às cidades de Paulo
Afonso e da vizinha Glória
com denúncias sobre
os grupos de extermínio da região.
“Há quem diga que a
morte de Nivanildo
foi um aviso para a direção
do jornal”, acredita o
padre José Wilson
Andrade, que atuou na
Paróquia Sagrada
Família de 1991 até
fevereiro de 2002
em Paulo Afonso,
ajudou a fundar o
Ponto de Encontro,
e hoje faz o curso
de Mestrado em
Belo Horizonte. Toda
as pessoas que, de alguma
forma, fizeram críticas aos grupos
de extermínio, foram ameaçadas.
A revista Gazeta da Bahia
chegou a mencionar uma lista
deste grupo, que ficou conhecido
como “Os Sentenciados”.
Na lista havia nomes de jornalistas,
radialistas, religiosos,
sindicalistas - entre eles, o
de Nivanildo.
Ponto de Encontro
cumpria um papel de
oposição numa cidade
em que a maior parte
dos jornais e
das rádios estavam
sob a influência do
Partido da Frente Liberal (PFL).
Nivanildo ingressou na
equipe quando
o jornal foi ampliado e passou
a ter dois cadernos.
Ele era então um
militante do Partido Comunista
do Brasil (PC do B).
Escrevia uma coluna
de política e participava da
discussão de pautas.
“Nivanildo dizia que
o jornal não podia ficar
calado sobre o crime
organizado, embora
não escrevesse diretamente
sobre isso”, lembra o padre.
O próprio Nivanildo ajudou
a organizaruma passeata contra
os desmandos e os
assassinatos cometidos pelos grupos
de extermínio.
Desde criança o
rapaz mostrava um
interesse especial pelo
Jornalismo. Tinha
cursado apenas o
1º Grau, mas adorava
ler livros e jornais,
devorando-os com
a mesma voracidade
com que assistia
aos noticiários pela
televisão. Chorou
quando ouviu a notícia
da chacina dos
meninos de rua na frente da
Igreja da Candelária, no
Rio de Janeiro, e desabafou:
“Isso é uma injustiça”.
A família do rapaz, ainda
traumatizada pela forma brutal como ele
apareceu morto na represa de
Paulo Afonso, não quer dar
declarações. Quase 13 anos
depois do ocorrido, os pais
deixaram a casa onde viviam
quando Nivanildo estava vivo.
Confiam apenas na Justiça de Deus.
Ameaças antes de morrer
Familiares lembram que, às 8h
do dia em que desapareceu,
Nivanildo estava em casa
quando recebeu um telefonema,
passou a mão na cabeça e
disse “Meu Deus”. Depois,
falou que tinha de ir até a
Igreja Perpétuo Socorro.
E desde então nunca mais apareceu.
Na tarde do dia seguinte,
a irmã de Nivanildo atendeu
uma ligação de um homem.
Sem se identificar,
o homem afirmou que o
jovem estava amarrado no
Varandão (uma chácara próxima ao aeroporto),
com dois rapazes e uma moça.
Outra informação que
consta nos depoimentos
prestados à polícia foi dada
por um amigo da família,
que teria avistado Nivanildo com
uma moça loira, entre 9h30min e 10h
do dia em que desapareceu,
sem ter certeza se a mulher
estava acompanhando Nivanildo ou se os
dois “andavam casualmente”.
Por duas vezes, pelo menos,
Nivanildo disse ter recebido
ameaças. Numa reunião do Ponto de Encontro,
comentou com o padre Andrade: “Esses caras
estão querendo me matar”,
sem entrar em detalhes.
Na tarde antes de desaparecer,
Nivanildo ligou para
Aníbal Alves Nunes,
editor da revista Gazeta da Bahia,
e falou que estava sendo
seguido e que havia recebido
telefonemas avisando que
não deveria ter publicado
artigos sobre os grupos de extermínio.
Quando o corpo de
Nivanildo foi encontrado na barragem,
houve insinuações de que
ele havia se suicidado porque
teve uma crise existencial.
Os familiares e os amigos
sempre rebateram essa versão.
Os jornalistas e radialistas
que denunciaram os grupos
de extermínio em Paulo
Afonso, na mesma
época de Nivanildo,
também sofreram perseguições e
ameaças. O jornalista
Roberto Borges Evangelista,
44 anos, conhecido como
Beto Borges, em 2002
é assessor da Prefeitura de
Jeremoabo, na Bahia,
mas durante os anos 90
teve de sair de Paulo Afonso
para se manter vivo.
As ameaças eram uma represália
às denúncias que fazia
na rádio Cultura,
onde tinha um programa
de música e de notícias
policiais, e no jornal Opus,
em queele dizia abertamente os
nomes dos envolvidos nos grupos
de extermínio. Borges era
também membro do Conselho da
Comunidade da Comarca
de Paulo Afonso, que fazia o
acompanhamento das
condições dos presídios.
Durante um tempo,
recebeu “recados” para se calar.
A “gota d’água” que o
fez sair da cidade foi quando um dos
“clientes” do Conselho da Comunidade -
um preso que havia escrito
uma carta de dentro da cadeia
denunciando torturas
feitas pelo Sargento Martins -
apareceu morto,
semi-enterrado na
entrada da casa do presidente do
Conselho: estava
escalpelado com
facão e tinha as mãos cortadas.
Como Borges,
Luiz José Ferreira
de Brito, conhecido como
Bob Charles, saiu de
Paulo Afonso quando
as ameaças se tornaram
mais freqüentes.
Hoje é dono de um jornal
independente e
assessor de um vereador,
mas nos anos 90
trabalhava numa rádio em que
denunciava o
crime organizado, citando nomes.
“A polícia mandava
recados: você pode amanhecer
com a boca cheia de formigas”, recorda.
Aníbal Alves Nunes, editor
da revista Gazeta da Bahia,
sofreu dois atentados por
conta de sua persistência.
“Todo crime que
acontecia eu registrava, mas não
divulgava os nomes de mandantes,
por isso ainda estou vivo”,
avalia. “Eu divulgava
sistematicamente,
o que gerou a vinda de um grupo
de Salvador para
fazer o levantamento completo
sobre os crimes:
como matavam, como queimavam
os corpos - eram crimes muito semelhantes”.
Contexto político da morte
Em 1995, a cidade de Paulo Afonso, a 507 quilômetros
ao norte de Salvador, ainda vivia em torno da Companhia
Hidrelétrica de São Francisco (CHESF).
Tinha cerca de 80 mil habitantes (hoje são 96,4
mil, de acordo com o censo de 2000). A represa que
modificou o cartão postal da cidade, geralmente ilustrado
pela cachoeiras de Paulo Afonso, trouxe o
desenvolvimento para a região.
Com o fim das obras da barragem,
no entanto, os moradores
de Paulo Afonso passaram
a sentir os reflexos do desemprego.
“A CHESF, que empregava
em torno de 15 mil funcionários em 1995,
tem hoje em torno de 2 mil”,
diz Nunes, da Gazeta da Bahia.
Os cargos no comércio e na construção civil
são escassos. Nunes lembra
que uma boa parte dos
moradores foi embora, outros
se dedicam à pecuária,
à agricultura e aos trabalhos
nas cidades vizinhas. Mas
a agricultura na região é
irrisória devido aos longos
períodos de seca.
Ironicamente, o município tem uma
das maiores arrecadações
no Estado, devido à presença
da hidrelétrica.
Em meados dos anos 90,
os jornais e as rádios denunciavam
a atuação dos grupos de
extermínio na região. Nunes
explica que havia dois
grupos rivais na cidade. Um deles
era liderado pelo Sargento
Martins, hoje preso. O outro,
pelo capitão Carvalho Lima,
que morreu em um confronto
mal explicado pela polícia.
O capitão Carvalho Lima
chegou a ser vereador e
teve seu mandado cassado. Embora
um fosse subordinado ao outro, os dois se
desentenderam e começaram a denunciar a
participação recíproca em mortes e roubos na
região. Padre Andrade acredita que a morte de
Nivanildo pode estar associada ao fato de o jovem
ter sido arrolado, a pedido do capitão Carvalho,
como testemunha de crimes que teriam sido
cometidos pelo Sargento Martins.
Nivanildo teriainclusive dado uma
entrevista numa rádio acusando o sargento.
Martins foi condenado a 32 anos de prisão por duplo
homicídio, como mandante de outro crime.
Seu nome não é citado no inquérito da morte
de Nivanildo.
O juiz Abelardo Paulo da Matta Neto, da
8ª Vara Crime de Salvador, que foi juiz da Vara
Crime de Paulo Afonso de 1993 a 1997, lembra
que havia a suspeita de o sargento ser um dos
mentores do esquadrão da morte na região.
“Por falta de provas, ele não foi acusado por
sua participação no crime organizado -
a Justiça só trabalha com provas”, ressalta o juiz.
Pela Internet, o próprio Martins se defende
das acusações.
No site
amigosdosargentomartins.vilabol.uol.com.br/principal.html,
ele se diz um “líder perseguido por ter denunciado
um poderoso esquema de corrupção, furtos,
tráfico de drogas, além de outros crimes praticados
pelo capitão da Polícia Militar da Bahia, Carvalho Lima (...)”.
A repercussão causada pela morte de Nivanildo e o
crime ocorrido em Glória em que foi indiciado
o sargento Martins ajudaram a mudar a realidade
em Paulo Afonso. Rosalino dos Santos Almeida,
juiz titular da 1ª Vara Cível de Paulo Afonso e
substituto da Vara Crime em Glória, Rodelas e
Chorrochó (cidades próximas), trabalha na região
há 12 anos. Segundo Almeida, o sargento Martins
só foi preso porque uma testemunha do crime
praticado na cidade de Glória teve a coragem
de depôr contra o policial em um inquérito.
“O pessoal da igreja começou a levar as
vítimas para a promotoria, e não para a delegacia,
porque a Polícia Civil e a Militar
tinham medo do sargento”,
conta Almeida.
Com a prisão de Martins, houve também
uma reestruturação da polícia na região.
Almeida é a favor de mudanças no sistema de
investigação no Brasil. “É preciso criar uma
forma de apurar o fato o mais próximo possível
do ocorrido, senão as pessoas
se esquecem dos detalhes,
provas que podem ser
valiosas para a condenação
de quem praticou o delito -
aí é trabalho dobrado
e caso perdido”, reclama o juiz.
“Na maior parte
dos casos, as testemunhas
voltam atrás nos depoimentos”.
Morte de Nivanildo Barbosa Lima precisa ser investigada
O minguado inquérito policial aberto em 22 de
julho de 1995 para investigar a morte de
Nivanildo Barbosa Lima, redator do jornal
Ponto de Encontro, de Paulo Afonso,
na Bahia, é um reflexo do
desdém com que o caso vem sendo tratado
desde então. De concreto, existe apenas um
laudo de exame do cadáver feito no Instituto
Médico-Legal Nina Rodrigues, em Salvador, em
agosto de 1995, que constatou morte devido a
asfixia mecânica por afogamento. A polícia e o
Ministério Público aceitaram, num primeiro momento,
a versão de “morte natural” e não investigaram
outras prováveis causas. Em 26 de outubro de 1998,
a juíza Maria Auxiliadora Sobral Leite
decidiu pelo arquivamento do caso.
Em junho de 2002, o promotor de Justiça auxiliar
da Comarca de Paulo Afonso, Hugo Casciano de Sant’Anna,
resolveu dar andamento ao pedido de reabertura do
inquérito para apurar novas provas.
Um ano antes, uma outra promotora já havia pedido
que as investigações prosseguissem e que a po-
lícia colhesse novos depoimentos, o que não foi feito.
Questionada pela SIP, em novembro de 2002, a
promotora de Justiça de Paulo Afonso,
Izabel Cristina Vitória Santos, encaminhou ao
Coordenador Regional de Polícia de Paulo Afonso,
Celso Lima Bezerra, um pedido de informações sobre o
andamento das investigações criminais. Bezerra
encaminhou o inquérito para a delegacia de Paulo
Afonso para dar prosseguimento às investigações.
A pedido da SIP, o perito e professor de
criminalística e balística, Domingos Tocchetto,
que já colaborou para a solução de casos de
repercussão nacional, avaliou o laudo que
consta no inquérito sobre
a morte de Nivanildo. Segundo Tocchetto,
um laudo de asfixia mecânica é a maneira mais simples de
se descartar um inquérito. Mas quem garante
que o afogamento não foi provocado?
“Há uma série de pontos que precisam ser
esclarecidos”, acredita. Ele apontou algumas
dúvidas a partir da leitura do laudo do cadáver:
- No laudo diz que foram feitos exames de
sangue e análise das vísceras, além de alcoolemia
(e, segundo os dados da alcoolemia,
Nivanildo estaria bêbado).
Por que o resultado destes exames
não está anexado ao inquérito?
.......
2. Quando o corpo foi encontrado, houve boatos de que
ele estaria sem a língua, ou com a língua cortada. No laudo,
há uma descrição detalhada da boca, e não é mencionada
a questão da língua. Não foram ouvidas testemunhas
sobre esse fato.
3. As fotos que constam no inquérito aparentemente
foram todas feitas por um jornalista, Aníbal Alves
Nunes, e não por um perito. Nas fotos, Nivanildo
aparece sempre do lado esquerdo, onde
4. se vê lesões no supercílio e na orelha. Mas o laudo
aponta a “ausência do lóbulo
do pavilhão auricular direito
com destruição parcial”.
Por que as fotos mostram só
um lado se houve lesões
5.do outro também?
Tocchetto estranha estas lesões.
Por que os peixes iriam comer uma só orelha,
e deixar ilesas outras partes expostas do corpo?
6. No exame dos ouvidos consta “ausência de
pavilhão auricular esquerdo e lóbulo do ´pulmão`”.
7. O perito questiona se esse “lóbulo do pulmão”
seria um erro de digitação, porque está citado
junto com o exame da parte externa do organismo,
e não da parte interna.
8. O laudo identifica uma ferida na região nasal,
mas não explica qual a origem (em relação às
outras lesões, aponta como sendo possivelmente
causadas por animais necrófagos).
Há também uma lesão
irregular na região superciliar direita.
No laudo, consta que possa
ter sido causada por animais necrófagos.
Mas uma lesão deste tipo pode sugerir
também que Nivanildo
9. tenha sido agredido ou levado alguma batida
antes de cair na água.
10. As fotos anexadas ao inquérito só mostram
lesões na região superciliar esquerda.
11. As lesões foram apontadas como sendo
produzidas depois da morte, por animais
“marinhos”. Nivanildo estava num lago de uma
represa - existem animais marinhos ali, ou
houve um problema de digitação?
12. A análise da calota (porção superior da caixa craniana)
identificou uma “congestão difusa”.
O perito questiona o que querem dizer
com a expressão e qual seria a causa do
derrame de sangue, como é indicado pelo
termo “impregnação hemática”. Pode ter
sido uma pancada, uma queda,
ou uma batida, por exemplo.
13. O laudo não descarta a hipótese e nem
investiga a possibilidade de, antes de ter
se afogado, Nivanildo ter recebido uma
paulada ou sido pressionado para dentro
da água. Segundo o perito, a exumação
do corpo pode identificar se há ossos
fraturados na cabeça ou na face - um indicativo
de uma pancada. No caso de se
realizar uma exumação,
é aconselhável fazer a varredura
14. de todo o corpo com Raio X para
verificar se existe a presença de algum projétil.
15. Por que não foi feito um levantamento
dos últimos momentos de vida de Nivanildo?
Se ele havia bebido, onde bebeu? Com quem?
16. A quantos metros da barragem ele estava?
Qual a posição em que foi encontrado?
Por que não há fotos feitas por peritos no local?
NIVANILDO BARBOSA LIMA (6 de fevereiro de 1968 - desapareceu
em 20 de julho de 1995
e foi encontrado morto
em 22 de julho de 1995)
Local e circunstâncias da morte: saiu de casa por
volta das 9h do dia 20 de julho de 1995 em
direção à Igreja do Perpétuo Socorro, onde
iria participar de uma reunião do jornal Ponto
de Encontro. Passou em frente ao Sindicato
dos Bancários e disse a amigos que depois
da reunião voltaria ao local. Seu corpo foi
encontrado boiando na represa PA-4 da
CHESF-Paulo Afonso, com ferimentos no rosto.
O laudo da necrópsia constatou
"afogamento por asfixia mecânica".
Provável causa: estava colhendo informações
sobre o crime organizado e escrevia artigos
para o jornal Ponto de Encontro
Suspeitos: o inquérito foi arquivado em
outubro de 1995. Com base no laudo
cadavérico, a morte foi considerada
“natural”. O Ministério Público pediu a
reabertura do inquérito em junho de 2002
FICHA PESSOAL
Lugar de Nascimento: Paulo Afonso, Bahia
Idade ao morrer: 27 anos
Estado Civil: solteiro
Educação: 1º Grau
Profissão/cargo: era redator do jornal Ponto
de Encontro em Paulo Afonso, na Bahia
Atividade Social/passatempos: gostava de jogar futebol
Outras atividades ou funções: era militante
do Partido Comunista do Brasil (PC do B),
assessorava sindicados e era ligado à Igreja Católica.
CRONOLOGIA
20 de julho de 1995 - Nivanildo Barbosa Lima
desaparece por volta das 9h, quando ia para a igreja
22 de julho de 1995 - O cadáver de Nivanildo
é encontrado na represa Paulo Afonso - PA-4 -
e o delegado Carlos Barbosa Sanches abre um
inquérito para apurar a morte
Agosto de 1995 - O laudo de exame cadavérico
feito pelo Instituto Médico-Legal Nina Rodrigues,
de Salvador, indica como causa de morte
“asfixia mecânica por afogamento”
26 de outubro de 1998 - A juíza Maria
Auxiliadora Sobral Leite aceita o pedido de
arquivamento feito pelo Ministério Público
17 de junho de 1999 - A promotora de
Justiça Isabel Adelaide de Melo Andrade
pede o desarquivamento do inquérito,
devido ao surgimento de novas provas
20 de junho de 2002 - O promotor de
Justiça Hugo Casciano de Sant’Anna,
da 1ª Promotoria de Justiça da Comarca de
Paulo Afonso, pede o retorno do inquérito
para a delegacia, para que sejam
encaminhadas as diligências pedidas
pela promotora
Outubro de 2002 - O inquérito permanecia
no Ministério Público para ser novamente
encaminhado à delegacia de polícia
7 de novembro de 2002 - A promotora
de Justiça da 1ª Promotoria da Comarca de
Paulo Afonso, Izabel Cristina Vitória Santos,
solicitou informações sobre o caso para o
Coordenador Regional de Polícia de
Paulo Afonso, Celso Lima Bezerra
11 de novembro de 2002 - Bezerra
disse que o inquérito seria encaminhado
ao delegado de Paulo Afonso para dar
andamento às diligências solicitadas.
Nivanildo Você não se foi ´´Um encontro que foi um fiasco´´ vida que era a vida na visão de um idealista como Nivanildo, se não a oportunidade de afirmação de suas convicções? convicções as vezes tão subjetivas e tão profundas que nem mesmo sua família entendia. Nivanildo levava tão á sério a idéia de uma sociedade sem opresão que o resto ele relativisava. A família? Diante da guerra da Bósnia? Diante das crianças morrendo na África? ou diante da chacina de Vigário Geral, A chacina da Candelária ou das mortes do Carandirú? A vida? Que segnifica a vida dos 8 milhões de meninos de rua no Brasil? Ou dianet dos 40 milhões que passam fome e estão na miséria? A sua família não estava errada. Fizeram tudo que podiam a Nivanildo. Mas ele era uma pessoa que tinha, sobretudo, uma visão social muito ampla. Porque denunciar militares envolvidos no grupo de extermínio? Porque Nivanildo achava que acreditava que podia ter uma Paulo Afonso melhor, lívre dos ´´vampíros selvágens, insaciáveis, com a alma emporcalhada de pecados, o corpo debilitado pelo veneno da maldade e a mente podre de devasidão´´. Como bem escreveu Aníbal Nunes, lembrando outro assacinato envergonhando a querida Paulo Afonso. Embora jovem sua convivêncvia com os movimentos populares [militante político, fez parte de entidades estudantis, participante em Associação de moradores, assesorava sindicatos, representante do comitê da cidadania contra a Violência pela Paz] o tornara alvo dos bandidos, criminosos e assacinos travestidos de empresários, políticos e policiais, todos eles conhecidos da população de Paulo Afonso. No dia 20 de julho de 1995 desapareceu Nivanildo para ser encontrado 3 dias depois morto. morto?
´´sozinho no escuro qual bicho do mato sem teogonia sem parede prá se enconstar sem cavalo preto que fuja a galope você segue José, José para onde? se você gritasse se você gemesse se você tocasse A valsa vienese se você dormisse se você morresse Mas você não morre josé você é duro José´´... Nós os cristãos sabemos que a verdadeira vida vem depois da morte. Por que ficar calado., por tanto, vendo as injustiças perante nós? por isso esse bando de extermínio tinha que ir para a cadeia. Por isso ele relatizava a vida. A ninguém pertence o destino da vida senão á Deus. A ele cabe a decisão de quem vai viver e de quem vai morrer. Por isso Nivanildo se levantou contra os últimos atos de violência que envergonharam Paulo Afonso. o assacinato do Jovem Jair Andrade, o processo de afastamento do Capitão Carvalho Lima, o asacinato dos lavradores Elizeu Barbosa e José Manoel, o assacinato da jovem Gildineide, a violência do estado ao cidadão, enfim ele se levantou contra toda forma de violência. Vamos sentir muito sua falta. Nivanildo;familiares, amigos, companheiros e população. Mas acreditamosna sua causa, acreditamos na justiça divina, sabemos que sua mensagem cauiu na boa terra e ela vai germinar, vai crescer, vai revolucionar, vai transformar, vai mudar Paulo Afonso. Por isso você não morreu, você vive. Obrigado querido Nildo. OBS: Texto de Gezival Texeira Lima[primo de Nivanildo] Caixa Postal-09-Cep-29930-000 São Mateus-Es.
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